Nesta segunda-feira, a terceira do mês de Janeiro, se comemora o Martin Luther King Jr. Day e você sabe quem foi o Dr. King e o que ele fez de especial? 

Apesar de ser um nome muito famoso, nem sempre sabemos exatamente qual foi a contribuição dele para a sociedade que nós vivemos. E é para isso que estamos aqui, você vai poder aproveitar o feriado por dentro do que ele significa.

King foi o principal porta-voz do ativismo não violento no Movimento dos Direitos Civis, que protestou contra a discriminação racial em leis federais e estaduais, conseguiu boas mudanças e foi premiado com um Nobel da Paz. Provavelmente, você só está aqui, nos EUA, por causa dele e do movimento que ele liderou. Sabe porque?

Quem foi Martin Luther King Jr.?

Martin Luther King nasceu em Atlanta, Geórgia, Estados Unidos, no dia 15 de janeiro de 1929. Ele era filho e neto de pastores da Igreja Batista e seguiu pelo mesmo caminho.

Ele viveu na pele a política segregacionista do estado de Atlanta ao longo de sua infância e adolescência. E desde o início de sua carreira, King foi ativista no movimento negro lutando pela igualdade civil entre negros e brancos.

Estudou Sociologia, Teologia, e se tornou doutor em 1955, em Teologia Sistemática pela Universidade de Boston, onde conheceu sua futura esposa e parceira de luta, Coretta Scott. Após seus estudos teológicos, King serviu como pastor numa igreja em Montgomery, Alabama e integrou a “Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor” (National Association for the Advancement of Colored People- NAACP).

Inspirado em Mahatma Gandhi e na teoria da desobediência civil de Henry David Thoreau – as mesmas fontes que inspiraram a luta de Nelson Mandela contra a Apartheid, na África do Sul by the way – Luther King ficou conhecido pelo seu método pacífico de protesto.

O início dos protestos

No dia 1 de dezembro de 1955, em Montgomery, Rosa Parks, uma mulher negra, foi detida e multada por ocupar um assento reservado para pessoas brancas. Naquela época somente os assentos do fundo do ônibus eram permitidos para pessoas negras, e isso era garantido por um motorista sempre branco.

O relato do protesto silencioso de Rosa Parks “viralizou” pela cidade, levando o Conselho Político Feminino a organizar um boicote aos ônibus urbanos, como medida de protesto.

Martin Luther King apoiou a ação e, pouco a pouco, milhares de negros passaram a caminhar quilômetros a caminho do trabalho, causando prejuízo às empresas de transporte. O protesto durou 382 dias, terminou em 13 de novembro de 1956, quando a Suprema Corte norte-americana aboliu a segregação racial nos ônibus de Montgomery.

Foi o primeiro movimento do tipo a obter sucesso em solo americano. No dia 21 de dezembro de 1956, Martin Luther King e Glen Smiley, sacerdote branco, entraram juntos e sentaram na primeira fila do ônibus.

Em 1957, Martin Luther King fundou a Conferência da Liderança Cristã do Sul, sendo o seu primeiro presidente. Passou a organizar campanhas pelos direitos civis dos negros. Em 1960, conseguiu liberar o acesso dos negros em parques públicos, bibliotecas e lanchonetes. Isso mesmo, era proibido! Em pleno século XX…

Luther King e a não-violência

Sua estratégia de luta era o método da não-violência e a pregação de amor ao próximo, inspiradas nas ideias cristãs. Igualmente, praticava a desobediência civil utilizada por Mahatma Gandhi durante a independência da Índia.

O seu método não era unanimidade nem no movimento, e encontrou resistência entre outros grupos de ativistas negros que usavam métodos e/ou discursos violentos como os “Panteras Negras” e o Malcon-X.

King foi preso quase 30 vezes

Ao combater a estrutura histórica da sociedade, Luther King, apesar das atitudes pacíficas, se tornou inimigo das instituições e das pessoas que queriam manter tudo como estava. 

De acordo com o King Center, o líder dos direitos civis foi preso 29 vezes. Ele foi preso por atos de desobediência civil e por acusações forjadas, como quando foi preso em Montgomery, Alabama, em 1956, por dirigir a 48 quilômetros por hora em uma zona de 40 quilômetros por hora.

O famoso discurso “I Have a Dream”

Um dos momentos mais icônicos do Dr. Martin Luther King, aquele que aparece em todas as homenagens, menções, citações, filmes, séries, músicas… Em 1963, sua luta o levou a liderar a Marcha para Washington, que reuniu 250 mil pessoas e entre os muitos discursos, incluindo o de um líder trabalhista branco e um rabino, ele fez seu discurso histórico “I Have a dream”, onde ele descreve uma sociedade, onde brancos e negros viveriam em paz e igualitariamente.

O discurso, que em grande parte foi falado no improviso, fez alusões ao Discurso de Gettysburg, à Proclamação de Emancipação, à Declaração de Independência, à Constituição dos Estados Unidos, a Shakespeare e à Bíblia.

Você pode assistir o discurso completo no Youtube.

O discurso foi transmitido pelas três principais redes de TV da época (ABC, CBS e NBC) e, embora ele já fosse uma figura nacional naquela época, marcou a primeira vez que muitos americanos – incluindo o presidente John F. Kennedy – o ouviram fazer um discurso inteiro e causou grande impacto. Nesse mesmo ano, Dr. King e outros representantes de organizações antirracistas foram recebidos por John Kennedy, que se comprometeu a agilizar sua política contra a segregação nas escolas e a questão do desemprego que afetava toda a comunidade negra. 

Kennedy foi assassinado menos de três meses depois, mas seu sucessor, Lyndon Johnson, assinaria a Lei dos Direitos Civis de 1964, que garantia a igualdade de direitos entre negros e brancos, e a Lei dos Direitos de Voto de 1965, marcando os avanços mais significativos na legislação dos direitos civis desde a Reconstrução.

Por todos esses feitos, em 1964, Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Ele foi assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee, quando apoiava a greve de trabalhadores negros das obras públicas sanitárias. King foi morto a tiros por James Earl Ray. 

King foi inicialmente enterrado no Cemitério South View, no sul de Atlanta, mas em 1977 seus restos mortais foram transferidos para uma tumba no local do Parque Histórico Nacional Martin Luther King Jr.

Martin Luther King e a imigração

Por ser uma grande personalidade do movimento negro, os feitos de Martin Luther King ficaram sempre ligados a essa pauta, mas a luta dele teve impactos e todas as áreas dos Direito Humanos.  

O Movimento dos Direitos Civis que culminou com a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964 inaugurou uma nova era em que poderíamos imaginar que a cor da pele não seria uma vantagem ou desvantagem. 

Também levou à revisão do sistema de imigração americano, desmantelando as preferências que favoreciam o ocidente, oferecendo oportunidades iguais a todos de imigrar para os Estados Unidos sem discriminação com base na origem nacional sob a Lei de Imigração e Nacionalidade de 1965. Essa legislação aboliu cotas baseadas em raça que reservavam a admissão principalmente para imigrantes do norte da Europa e implementou um sistema baseado na família que abriu a imigração de países de todo o mundo. Ao remover as barreiras raciais e nacionais à entrada, a Lei de Imigração e Nacionalidade mudou literalmente a face da América.

Os Estados Unidos aderiram ao Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados que expandiu a definição de refugiados para além do contexto europeu pós-Segunda Guerra Mundial. 

Durante as décadas que se seguiram ao Movimento dos Direitos Civis, o Congresso aprovou a Lei de Direitos de Voto, Lei de Habitação Justa, Emenda de Direitos Iguais, Lei de Americanos com Deficiência, para citar alguns. 

Os tribunais também desmantelaram a segregação nas escolas e no transporte público, derrubaram leis que proibiam casamentos inter-raciais, reconheceram os direitos reprodutivos das mulheres e os direitos dos casais do mesmo sexo. 

Mais de meio século desde a reforma do nosso sistema de imigração, gerações de imigrantes e refugiados se estabeleceram nos Estados Unidos, muitos deixando para trás ou fugindo de regimes autoritários totalitários. 

No Dia de Martin Luther King Jr., devemos reconhecer que a nossa presença como imigrantes nos Estados Unidos, se deve aos guerreiros dos direitos civis como Martin Luther King Jr., John Lewis, Rosa Parks, Malcolm X, Bayard Rustin, James Farmer, James Chaney, Andrew Goodman, Michael Schwerner, Hosea Williams, Whitney Young Jr. e Roy Wilkins, cujo sangue, suor e vidas impulsionaram o Movimento dos Direitos Civis que lançou as bases para nossa atual busca pela equidade racial.

O clamor por justiça racial não é meramente exigir tratamento igual, independentemente de identificação racial, cor da pele ou origem nacional. É um chamado para realizar plenamente a promessa da democracia. É nosso trabalho coletivo definir qual é essa promessa e como alcançá-la.

Martin Luther King Day

O Dia de Martin Luther King Jr. é um feriado federal nos Estados Unidos que marca o aniversário de Martin Luther King Jr. e é comemorado na terceira segunda-feira de janeiro de cada ano. O feriado é semelhante aos feriados definidos sob a Uniform Monday Holiday Act.

A campanha por um feriado federal em homenagem a King começou logo após seu assassinato em 1968. O presidente Ronald Reagan sancionou o feriado em 1983, e foi observado pela primeira vez três anos depois. 

A princípio, alguns estados resistiram a observar o feriado como tal, dando-lhe nomes alternativos ou combinando-o com outros feriados. Foi observado oficialmente em todos os 50 estados pela primeira vez em 2000.